14/03/2014

Novas do sul



Jonopsidium acaule (Desf.) Rchb.





São Martinho do Porto


Longe vai o tempo em que os portugueses trocaram couves por eucaliptos com os australianos. Agora sabemos que a família Brassicaceae, fácil de identificar pelas flores de quatro pétalas dispostas em cruz, não é um mero ajuntamento de nabiças e saramagos. E tem sido uma agradável surpresa descobrir que abriga vários endemismos lusitanos. O endemismo português desta família que hoje aqui comparece, e de que só conhecemos registos no litoral a sul de São Martinho do Porto, é uma planta anual de porte diminuto (1,5 a 6 cm), muito mais baixinha do que a sua congénere, um endemismo da Península Ibérica, Jonopsidium abulense (Pau) Rothm.. Mas quando está em flor (ou seja, agora), notam-se bem os tapetes que forma em solo arenoso, aproveitando clareiras de zimbrais ou de pinhais. As pétalas rosa-lilás quase não se separam, e as folhas redondas, lembrando colheres minúsculas, arrumam-se em rosetas no centro das quais sobressaem os racimos de flores. Está formalmente protegida como espécie prioritária através da Directiva Habitats e da Convenção de Berna.

A presença desta planta em Portugal foi primeiro assinalada, em 1798, pelo botânico francês René Louiche Desfontaines (1750-1833), estudioso da flora do norte de África. Chamou-lhe, na sua Flora Atlantica (1798–1799), Cochlearia acaulis. Pouco tempo depois, Brotero regista-a também: primeiro como Cochlearia pusilla na Phytographia Lusitaniae Selectior, de 1800; e quatro anos depois, na Flora Lusitanica, chamando-lhe Cochlearia olyssiponensis. Tem, de facto, alguma semelhança com a Cochlearia danica L., que conhecemos de paragens mais nortenhas, o que, contudo, não explica cabalmente o nome de cocleária-menor que o povo alegadamente lhe daria.

Porém, a designação da planta que prevalece hoje é a atribuída, em 1829, pelo botânico e ornitólogo alemão Heinrich Gottlieb Ludwig Reichenbach (1793-1879), num dos dez volumes da sua obra Iconographia botanica s. plantae criticae (1823-32). Reichenbach observou a planta em Alcântara no dia 28 de Fevereiro de 1828. Propôs então para ela o nome genérico Jonopsidium, uma união elegante entre o prefixo grego ion, violeta, e opsis, semelhante. Sendo assim, pensará o leitor, deveria ser Ionopsidium. Pois claro, e é mesmo esse o nome usado na Flora Europaea e, consequentemente, por Amaral Franco na Nova Flora de Portugal. Será, todavia, um duplo engano (dos que não somam cem anos de perdão) escrever com I uma designação cujo autor escolheu iniciar com um J.

2 comentários :

bea disse...

Escrevamos pois com J. E que ela floresça perto de nós, assim, rasamente bonita, a florir poesia na cor das glicínias.

Obrigada pela mostra. E tb pelas fotos do mar
BFS

Maria Carvalho disse...

Resume bem, bea, o mar e estas plantas são uma benção.